Élcio Costa
O atual sistema de produção de alimentos tem sido alvo de críticas em relação a sua capacidade de suprir a demanda alimentar de uma população em crescimento de maneira sustentável, segura, ética e economicamente viável. Dentre os setores, o de produção de proteína de origem animal tem ganhado destaque no centro desse debate, apontada como sendo um sistema com elevada pegada ecológica, alta demanda por recursos naturais e baixa eficiência em utilizá-los, elevado risco a saúde humana, e acusada de utilizar práticas que causam o sofrimento animal. Além do sistema de produção, as práticas alimentares, principalmente as dietas com elevado consumo de carnes vermelhas, estão recebendo críticas relacionando-as com o aumento de casos doenças não transmissíveis, como: obesidade, doenças cardiovasculares, desnutrição, diabetes, depressão, casos de câncer, entre outros. Cenário que tem estimulado o desenvolvimento de pesquisas e debates sobre a necessidade de uma produção de alimentos mais saudável, segura e ambientalmente sustentável, assim como mudanças nas práticas alimentares, propondo a redução no consumo de produtos de origem animal, principalmente, o de carne vermelha e sua substituição por uma dieta a base de vegetais, considerada mais saudável. Nessa conjuntura, as carnes sintéticas estão sendo apresentadas como as alternativas a esse modelo de produção, apontadas com a capacidade de suprir a demanda de proteínas de maneira sustentável, sem causar sofrimento animal e promovendo a saúde da população. Entretanto, as opiniões não são unanimes e existe um movimento crítico que questiona essas afirmações e contra posicionam-se questionando a viabilidade e a segurança da utilização desses produtos na alimentação humana. Tendo como base esse cenário, propomo-nos a analisar os processos de justificação utilizados pelos atores na construção das narrativa, prós e contrárias, a produção das carnes sintéticas, utilizando da análise documental como metodologia principal e da revisão sistemática como ferramenta para selecionar os documentos utilizados nessa pesquisa, com objetivo de analisar os elementos (elementos, símbolos) utilizados pelos atores em seus argumentos, permitindo-nos observar e analisar as estratégias discursivas escolhidas pelos atores para justificar suas ações e práticas.
A partir dos documentos selecionados, observamos: a) processo de alinhamento das narrativas, de ambos os lados, com temas atuais e de interesse da sociedade; b) promoção das carnes sintéticas como o produto que resolverá os problemas relacionados às questões climáticas, segurança alimentar e sofrimento animal; c) silenciamentos sobre pontos negativos que a produção e o consumo desse produto podem ocasionar; d) reorganização e readaptação dos sentidos dos elementos utilizados, a partir do contexto e dos interesses dos atores que os utilizam, ocasionado uma disputa de narrativas e da atenção, principalmente, dos consumidores; e) aumento da participação e investimentos de grandes conglomerados nesse novo produto; f) narrativas que desenham um projeto com resultados no futuro, mas com impactos no presente para garantir que esse futuro aconteça; e, g) questionamentos e dúvidas sobre a real viabilidade desse novo produto sobre a segurança alimentar, o meio ambiente, a saúde da população. Cenário que torna o tema da produção de alimentos um campo fértil para disputas narrativas e para o desenvolvimento de diversos realidades possíveis, a partir dos contexto, interesses e realidades dos atores vivenciam e querem transmitir, buscando influenciar práticas sociais, econômicas e alimentares.
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